Move incessante as asas incansáveis
O tempo fugitivo;
Atraz não volta !
A. de Gusmão.
Urge o tempo, os annos vão correndo,
Mudança eterna os seres afadiga !
O tronco, o arbusto, a folha, a flor, o espinho,
Quem vive, o que vegeta, vai tomando
Aspectos novos, nova forma, em quanto
Gyra no espaço e se equilibra a terra.
Tudo se muda, tudo se transforma;
O espirito, porém, como centelha,
Que vai lavrando solapada e occulta,
Até que emfim se torna incêndio e chammas,
Quando rompe os andrajos morredouros,
Mais claro brilha, e aos céos comsigo arrasta
Quanto sentio, quanto soffreu na terra.
Tudo se muda aqui ! sómente o affecto,
Que se gera e se nutre em almas grandes,
Não acaba, não muda; vai crescendo,
Co' o tempo avulta, mais augmenta em forças,
E a própria morte o purifica e alinda.
Simelha estatua erguida entre ruinas,
Firme na base, intacta, mais bella
Depois que o tempo a rodeou de estragos.
O tempo passa e, com ele, todas as coisas acabam e são olvidadas, com exceção da memória de grandes pessoas.
3 estrofes X 6, 7 e 8 versos hendecassílabos, brancos