Ah! ya agostada
Siento mi juventud, mi faz marchita,
Y Ia profunda pena que mi agita
Ruga mi frente de dolor nublada.
HEREDIA.
Pede cantos aos ledos passarinhos,
Pede clarão ao sol, perfume as flores,
As brisas suspirar, murmúrio aos ventos,
Doces querelas ao correr das fontes;
E o sol, a ave, a flor, a brisa, os ventos
E as fontes que murmurão docemente,
Na festa da tua alma hão-de seguir-te,
Como um som pelos echos repetido.
Mas não peças á lyra abandonada
Um alegre cantar,—já murchas pendem
As grinaldas gentis de que a toucárão
Donzeis louçãos, enamoradas virgens.
Hoje mal partem roucos sons dos nervos,
Que amargo pranto destendeu sem custo;
Quem ha que se não dóe de ouvir cantados
Uns versos de prazer entre soluços ?
Mas não peças um hymno ao triste bardo
Verde ramo d'uma arvore gigante
O raio no passar queimou-lhe o viço,
Deixando-o por escarneo entre verdores.
Uma febre, um ardor nunca apagado,
Um querer sem motivo, um tédio á vida
Sem motivo também,—caprixos loucos,
Anhelo d'outro mundo, d'outras coisas;
Desejar coisas vãs, viver de sonhos,
Correr após um bem logo esquecido,
Sentir amor e só topar frieza,
Scismar venturas e encontrar só dores;
Fizerão-me o que vês: não canto, soffro!
Lyra quebrada, coração sem forças
De poético manto as vou cobrindo,
Por disfarçar desta arte o mal que passo.
Mas se inda tens prazer á luz da aurora,
Se teameiga fitar longos instantes,
Sentada á beira mar, na paz de um ermo,
Uma flor, uma estrella, os céos e as nuvens;
Pede canto aos ledos passarinhos,
Á brisa, ao vento, á fonte que murmura;
Mas não peças canções ao triste bardo,
A quem té para um ai já falta o alento.
A lira personifica o trovador que se sente cansado, envelhecido e amargurado pela vida. Ele afirma não ser mais capaz de cantares felizes e belos.
10 quadras decassílabas brancas.