(Tradução)
Maria, porque me foges,
Porque me foges, donzella?
Minha voz! o que tem ella,
Que te faz estremecer;
Tão temivel sou acaso ?
Sei amar, cantar, soffrer.
E quando ao travez dos troncos
Descubro d'allos coqueiros
Junto as margens dos ribeiros
A sombra tua a vagar;
Julgo vêr passar um anjo
Que os meos olhos faz cegar.
E dos lábios teos se escuto
Deslisar-se a voz, Maria,
Cheio de estranha harmonia
Pulsa o peito meo queixoso,
Que mistura aos teos accentos,
Tênue suspiro afanoso.
Tua voz! eu quero ouvir-t'a
Mais do que as aves cantando,
Que vem da terra voando,
Onde eu a vida provei;
Da terra onde eu era livre,
Da terra onde eu era rei!
Liberdade e realesa,
Heide perder da lembrança;
Familia, dever, vingança...
Té a vingança mesquece,
Fructo amargo e deleitoso,
Que tão tarde amadurece!
Es, Maria, qual palmeira,
Altiva, esbelta, engraçada,
No tronco seo balançada
Por leve brisa fagueira,
No teo amante a rever-te,
Como na fonte a palmeira.
Mas não sabes?—Do deserto
A tempestade valente
Corre as vezes de repente
Por acabar apressada
Com seo hálito de fogo
A palmeira, a fonte amada!
E a fonte já mais não corre!
Sente a verdura sumir-se
A palmeira, e contrahir-se
A palma sua ao redor,
Que de cabellos dava areL
De c'roa tendo o splendor!
D'Hespaniola ó branca filha,
Teme por teo coração;
Teme a força do vulcão
Que vai breve rebentar,
E depois amplo deserto
Só poderás contemplar.
Talvez que então te arrependas
De me haveres desdenhado
Porque houveras encontrado,
Salvação no meo amor;
Como o kathá leva á fonte
O sedento viajor.
Porque assim tu me desdenhas
Não, Maria, não o sei
Que d'entre as frontes humanas,
Entre as frontes soberanas,
Levanto a fronte; sou rei.
Sou preto, sim, tu és branca;
Mas qu'importa? Junto ao dia
A noite o poente cria
E cria a aurora também,
Que mais luzentes bellezas,
Mais doces do que elles tem.