Amor amore.
Provérbio.
Sei amar com paixão ardente e fida,
Gomo o nauta ama a terra, como o cego
A luz do sol, como o ditoso a vida.
Sim, sei amar; porém do immenso pego
D'uma existência misera e cansada,
Quero uma hora, um instante de socego.
Dera a vida a uma alma apaixonada,
A um peito de mulher que me entendesse,
Onde eu pousasse a fronte acabrunhada.
Porém que fosse minha! e que eu soubesse
Que os lábios que beijei são meus somente,
Nem pensa em outro, nem de mim se esquece.
Nem vai de prompto derramar demente
N'outros ouvidos a palavra, o accento,
Que em extasis de amor criei fervente.
Nem corre o seu volátil pensamento,
Quando fallo, a pensar n'outros amores,
N'outra voz, noutros sons, noutro momento.
Demais, acostumado a teus rigores,
Não me queixo, bem vês, mas despedaço
A prisão vil, embora occulta em flores.
Se entro furtivo, onde outro mais de espaço
Como senhor campeia—ao mais querido
Cedo o ingresso, ao mais ditoso o passo.
Não me contenta um coração partido,
Um só amor que a dous pertence,—um peito,
Que bate por dous homens, fementido.
Se eu único não sou,—vil, não aceito
Ser segundo em amor,—inteiro é nobre,
Vale um throno; — partido, é dom tão pobre,
Qu'eu pobre, como sou, de altivo engeito.