Forão as trevas fugindo,
E lusindo
Nasce o sol sobre o horisonte;
Quando a pastora formosa
E mimosa
Já caminho vai do monte !
A relva tenra e molhada,
Orvalhada,
Que de noite despontou,
Se levanta melindrosa,
Mais viçosa
Depois que o sol a afagou !
Nos ramos cantão, trinando
E saltando,
As aves seu casto amor;
Aqui, ali, scintillante
E brilhante
Desabrocha a linda flor.
E a pastorinha engraçada,
Bem fadada,
Na fresca manhã de abril,
Vai cantando maviosa,
E saudosa
Pensando no seu redil.
Para as serras do Gerez
Toca a rez
Toca a rez, gentil pastora;
Lá te aguarda o bom pastor,
Teu amor,
Que te chama encantadora.
Vai, pastora, vai depressa,
Já começa
O sol no valle a brilhar;
Vai, que as tuas companheiras,
Galhofeiras,
Lá estão com elle a folgar!
Pela aldeia entre os pastores
Vão rumores
De que tens uma rival,
Nessa Alteia, a tua antiga,
Doce amiga,
Que te quer hoje tão mal!
Tu não sabes que os amores
São traidores,
Que o homem não sabe amar;
E que diz: Esta é mais bella;
Mas aquella
É que me sabe agradar!
Tenho d'Alteia receios,
Que tem meios
De prender um coração.
É viva, bella, engraçada,
Festejada
Nos cantares do serão.
Como a neve em seus lavores,
Nos amores
Que caprichosa não é!
Zomba delle quando o topa,
E o provoca
De mil maneiras, á fé!
Té dizem — será mentira —
Que lhe atira
Seus motetes muita vez;
Dizem mais, que ha prendas dadas
E trocadas
Não sei; mas será talvez!
Triste de ti, se assim fora,
Oh pastora,
Triste de ti sem amor!
Foras alvo dos festejos,
Dos motejos,
E do canto mofador !
Cheia de pudico medo,
Ao folguedo
Do domingo festival,
Não irias, oh formosa,
Vergonhosa
Dos olhos d'uma rival!
Para as serras do Gerez
Toca a rez,
Toca a rez, gentil pastora;
Lá te aguarda o bom pastor,
Teu amor,
Que te chama encantadora!
Gerez.
Uma bela e agradável pastorinha vai em direção às serras de Gerez encontrar seu amado. O eu poético a adverte que vá logo, pois suas rivais investem em seu amado.
14 estrofes X 6 versos, rimados em A-A-B-C-C-B. Intercalação de redondilhas maiores e trissílabos (7-3-7-7-3-7)